Há um grande número de grupos que ensinam que os cristãos devem observar o sábado no sétimo dia. Os argumentos apresentados por esses sabatistas parecem bastante convincentes. Mas, são as conclusões deles corretas?
Vamos considerar Êxodo 31:12-17:
“Disse mais Deus a Moisés: Falarás também aos filhos de Israel: Certamente guardareis os meus sábados; pois este é um sinal entre mim e vós pelas vossas gerações; para que saibais que eu sou Jeová que vos santifico. Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós. Aquele que o profanar, certamente será morto; pois todo o homem que trabalhar neste dia será exterminado do meio do seu povo. Seis dias se trabalhará; porém no sétimo dia é um sábado de descanso solene, consagrado a Jeová; todo o que trabalhar neste dia, certamente será morto. Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, para o observarem pelas suas gerações, como pacto perpétuo. É um sinal perpétuo entre mim e os filhos de Israel; pois em seis dias fez Jeová o céu e a terra, e ao sétimo dia descansou e achou refrigério.”
Note-se neste trecho que Deus fez a aliança do Sábado com o povo de Israel, as pessoas que Ele tinha libertado da escravidão do Egito e seus descendentes (gerações). Deus não fez esta aliança com a humanidade em geral.
Os sabatistas não concordarão com esta última afirmação. Eles apontam para Gênesis 2:2, 3 onde se lê:
“No sétimo dia acabou Deus a obra que tinha feito; e cessou no sétimo dia de toda a obra que fizera. Abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele cessou de toda a obra que fizera como Criador.”
Com base nisso, eles afirmam que Deus determinou que toda a humanidade observe o sábado desde a época de Adão. Todavia, esta é uma pressuposição que não é baseada em alguma declaração explícita efetivando isso, e não há qualquer exemplo registrado na Bíblia de alguém guardando o sábado antes do êxodo de Israel do Egito. A Bíblia diz explicitamente que a nação de Israel recebeu de Deus a ordem para observar o sábado. Como poderia o sábado servir como um sinal entre Deus e Israel se sua observância é obrigatória para toda a humanidade?
Vamos examinar em seguida um trecho do Testamento Cristão. Atos 21:17-26 registra certos eventos do retorno de Paulo a Jerusalém. Citamos aqui as partes pertinentes do relato:
(18) No dia seguinte Paulo foi em nossa companhia ter com Tiago, e estavam presentes todos os presbíteros... (20)... Eles, depois de o ouvir, glorificaram a Deus, e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares há que têm crido entre os judeus, e todos são zelosos da Lei; (21) e têm sido informados a teu respeito de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem andem segundo os nossos ritos. (22) Que se há de fazer, pois? Certamente saberão que tu és chegado. (23) Faze, pois, isto que te vamos dizer: [aqui eles deram certas instruções a Paulo] (24) ... e saberão todos que não é verdade aquilo de que têm sido informados a teu respeito, mas que andas também retamente, guardando a Lei. (25) Mas quanto aos gentios que têm crido, já escrevemos, ordenando que se abstenham do que é sacrificado aos ídolos, de sangue, de animais sufocados e de fornicação.”
Note-se que muitos milhares de judeus haviam se tornado os crentes em Jesus como o Messias e eram zelosos da lei. Esses crentes estavam preocupados porque ouviram que Paulo estava ensinando os judeus na diáspora a pararem de seguir a Moisés. Eles NÃO estavam preocupados com o que Paulo estava ensinando aos crentes gentios. Os acontecimentos narrados aqui ocorreram no início dos anos 60 AD.
O versículo 25 citado acima remete aos eventos que ocorreram cerca de quinze anos antes disso, que estão registrados em Atos capítulo 15. Naquele tempo alguns judeus crentes em Jesus começaram a ensinar os crentes gentios: "Se não vos circuncidardes segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.” (Atos 15:1) Isso provocou uma grande confusão entre os crentes gentios. Por fim, uma reunião dos apóstolos e anciãos em Jerusalém foi feita para resolver este problema. Certos judeus crentes sustentavam lá que, "É necessário circuncidar os gentios e mandar-lhes que observem a Lei de Moisés." (Atos 15:5) Depois de muita discussão, foi finalmente decidido o rumo a se tomar. Uma carta foi enviada aos crentes gentios, sendo que parte dela dizia, "Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior peso além destas coisas necessárias: que vos abstenhais de coisas sacrificadas aos ídolos, de sangue, de animais sufocados e de fornicação; destas coisas fareis bem de vos guardar. Saúde.” (Atos 15:28, 29)
Note-se, em primeiro lugar, que a observância do sábado não foi incluída nestes requisitos! Pode-se argumentar que o roubo ou o assassinato também não foram incluídos. Isto é verdade, mas as facetas da Lei Mosaica que foram delineadas são áreas nas quais o padrão moral dos gentios diferia significativamente do estabelecido na Lei Mosaica. Os gentios também entendiam que o roubo, o assassinato e outros delitos eram errados, e seus padrões não eram tão diferentes ao ponto de se precisar fazer uma menção especial disso. Uma vez que os gentios não observavam o sábado no sétimo dia, seria de esperar que se fizesse uma menção específica disso, para impor sua observância entre os cristãos gentios como uma dessas “coisas necessárias”.
Conforme já foi observado, os sabatistas afirmam que a observância do sábado foi apresentada como mandamento antes da Lei de Moisés e é obrigatória para toda a humanidade. Sinceramente discordo disso, mas mesmo que fosse verdade, isso não teria qualquer influência na questão. Todos os requisitos especificados pelos apóstolos e anciãos de Jerusalém para serem observados pelos gentios eram pré-mosaicos. Mesmo a circuncisão, que foi o primeiro ponto da discórdia naquela reunião, mas que NÃO foi incluída na carta às congregações, era pré-mosaica. Estes fatos reforçam a conclusão de que se a observância do sábado fosse obrigatória, ela deveria ter sido especificamente mencionada para ser incluída.
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